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Ganso, em sua apresentação para 40 mil pessoas no Morumbi (Foto: Rahel Patrasso / São Paulo FC)
Brilhante drama de David Fincher, The Curious Case of Benjamin Button (O Curioso Caso de Benjamin Button, no Brasil) é um filme de 2008 em que o personagem do título, interpretado por Brad Pitt, nasce com aparência de idoso e vai ficando mais novo ao longo dos anos. Assistam.

Brilhante meio-campista do futebol brasileiro, Paulo Henrique Ganso é um jogador que surgiu com maturidade e habilidade de gente grande, mas que com o tempo foi abalado pelo psicológico e pelas lesões, mostrando a todos que não era o atleta que surgiu nos tempos de Santos. Deem outra chance.
Ganso é um jogador raro do futebol brasileiro - para o bem e para o mal. Inteligência e classe tão acima da média quanto inconstantância e desinteresse. Começou com muitas expectativas no Santos e logo as superou: com passes incríveis e qualidades incomuns para alguém de sua idade, foi o maestro do time de Neymar. Com o tempo, porém, as lesões o atacaram. Quando voltou, parecia outro jogador. Com medo de dividida. Com a cabeça fora do campo. O que ficou evidente quando complicou seu processo de renovação e, visivelmente mal assessorado, brigou com todos ao seu redor.

Falemos apenas sobre o Ganso do São Paulo. Deixa o monstro do Santos pra lá. Deixa aquele que encantou o Brasil no começo da carreira lá, na bandeirinha de escanteio. Como ele deixou aquela bola na final do Paulista de 2010 contra o Santo André. Aquela, que ele se recusou a sair. Aquela, que ele brilhou. Aquela, que ele mostrou o potencial e a maturidade que tinha.

Paulo Henrique demorou para jogar bola no Tricolor. Chegou machucado, com Jadson ainda bem. Começou mal 2013, talvez o pior ano de nossa história dentro de campo. Sequencia incrível de jogos sem vencer e briga contra o rebaixamento, lembram? Com a chegada de Muricy, conseguimos escapar até com facilidade. Com Ganso sendo nosso melhor jogador. Oito assistências e 57 passes para finalizações, mas com papel decisivo dentro de campo.

Veio 2014 e, Ganso, de novo começou mal. Sua irritante mania de andar em campo e parecer alheio a tudo que estava acontecendo fez muita gente o querer fora do São Paulo. Veio Kaká (volta, pfvr) e, com a responsabilidade de armação dividida, Ganso foi, de novo, o melhor jogador do time. O melhor jogador do vice-campeão brasileiro. Claro que Kaká potencializou o futebol de outros jogadores também, como Pato, Souza, Kardec e Luis Fabiano, mas o camisa 10 foi quem mais brilhou? Números? Oito gols, nove assistências e 75 passes para finalizações, entre Brasileiro e Sul-Americana. Números comuns para alguém que já foi apontado como um futuro grande craque da Seleção, mas ótimos para um meio-campista no futebol brasileiro. Ganso jogou muita bola pelo São Paulo, sim.

Rubens Chiri / São Paulo FC
Rubens Chiri / São Paulo FC
Ao lado de Kaká, a melhor fase com a camisa do São Paulo

Este ano de 2015 talvez tenha sido o mais inconstante da carreira de Ganso. Este, que parece ter alguma sina para jogar apenas na reta final da temporada e aí talvez nos encher de esperanças para o ano seguinte, teve sua saída bem próxima. Eu mesmo pedi sua saída, como aposto que você, leitor, também deve ter pedido. Era, mal comparando, uma espécie de câncer terminal, que espalhava preguiça e até um nojo de tocar na bola pelo resto do time. Mas o camisa 10...

Seus números, por exemplo, são até surpreendentes para quem estava sendo xingado a todo instante. É osegundo maior assistente do Brasileirão, com nove passes para gol, e já deu 57 passes para finalizações no campeonato. Ganso, aliás, tem uma excelente média de desarmes: 57 certos, com 90% de êxito na tentativas, em um fundamento que foi aprimorado lá em 2014 (foram 73 só no torneio nacional). Aqui na ESPN, o Mauro Cezar Pereira fez um levantamento com seus dados

Desde aquela expulsão contra o Sport, fez bons jogos contra Atlético Mineiro, Corinthians, Figueirense, Ceará, Ponte Preta, Internacional, Grêmio, Vasco, Atlético-PR, Coritiba e Sport, por exemplo. Outra: quando Ganso não jogou, nesse Brasileiro, o São Paulo só venceu jogos contra Chapecoense, fora, e Cruzeiro, casa, ambas partidas decididas por um gol em lances isolados. Sem ele, empatou fora com o Inter, perdeu fora para o Flamengo, empatou em casa com a Chapecoense, perdeu fora para o Figueirense e foi goleado fora pelo Corinthians. Sem Ganso, o São Paulo não cria. O São Paulo se torna um time muito pior do que já é.

Rubens Chiri / São Paulo FC
Rubens Chiri / São Paulo FC
Ganso, capitão: cena deve se repetir muito em 2016

Pois bem. Quem não vê o São Paulo, cai no senso comum de que Ganso nunca mais jogou bola na vida desde que se machucou, ainda pelo Santos. Seus números, que parecem poucos, se colocados em outros meias seriam exaltados. Mas aí que está: como nosso 10 foi colocado tão cedo ao patamar de gênio, esperamos mais dele. Muito mais. À primeira vista, a impressão é que Ganso vem decaindo na carreira. Tal qual um Benjamin Button, teria 'nascido' e feito o ciclo contrário, regredindo. Meia verdade. Caiu, e muito, mas não chegou ao fim. Longe disso, aliás. 

É arriscado, sim, mas o camisa 10 precisa continuar no São Paulo. Talvez estejamos iludidos pela boa reta final, como foi em 2013 ou 2014. Talvez ele comece mal o ano que vem e não se recupere, saindo de graça. Precisamos tentar. Acima da média ou não, é uma ilha de qualidade no meio de tanto perna-de-pau. E está sendo, aos poucos, sendo preparado para ser o dono do time em 2016. Muitas vezes pegou a faixa decapitão e será um dos jogadores com mais tempo de casa. E com mais pressão.

Dizer Ganso nunca jogou bola em alto nível no São Paulo é brigar com o óbvio. É coisa de quem não quer aceitar ou de quem continua esperando muito. Aceitem: Paulo Henrique Ganso nunca mais será aqueleextraterrestre que foi no Santos (e que tinha um excelente time em volta). Mas, mesmo não chegando perto daquele jogador, ainda é um dos principais meias do Brasil. E merece, nem que seja a última, mais uma chance com a camisa do São Paulo.


Fonte: ESPN

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